No dia seguinte à chegada e descoberta de Salzburgo, na Áustria, queríamos aproveitar o Cartão de Salzburgo comprado na véspera para ainda ir ao Palácio de Hellbrunn. Este cartão compensa bastante para quem o usar ao máximo.
Fizemos, então, o Tour II de uma série de passeios de barco em Salzburgo, pelo rio Salzach. O passeio de barco começou às 9.30h na plataforma Makart, junto ao centro de Salzburgo.
A partir daí seguimos pelo rio numa agradável embarcação com teto e paredes de fibra de vidro transparente. Cerca de vinte minutos mais tarde chegámos a Hellbrunn, onde nos esperava uma curta viagem de autocarro até ao palácio.
Palácio de Hellbrunn
O Palácio de Hellbrunn é uma villa Barroca, situada perto de Morzg, construída entre 1613 e 1619. Foram necessários apenas três anos para que o Príncipe-Arcebispo Markus Sittikus von Hohenems pudesse desfrutar desta magnífica obra do arquiteto italiano Santino Solari.
Já que o objetivo era que fosse usada como residência de Verão (só durante o dia) não há quartos em Hellbrunn. O Príncipe ia sempre dormir em Salzburg.









Hellbrunn também é muito famoso pelos seus “jogos de águas“, que atraem muitos turistas nos meses de verão. Estes “jogos” foram concebidos pelo próprio Markus Sittikus, um homem com um sentido de humor muito apurado, para pregar partidas aos seus convidados, molhando-os de forma engenhosa…
Nos jardins pode-se ver um pequeno teatro musical (de 1750) com minúsculas marionetas que simulam variadas profissões e cujos movimentos acontecem devido à força da água a circular no mecanismo.
Há, também, uma gruta e uma coroa que sobe e desce por ação da água, simbolizando a subida e queda do poder. Em todos estes “jogos” há sempre um lugar que não é molhado: aquele reservado ao Príncipe-Arcebispo.

Hellbrun fica num grande parque em que se podem descobrir um zoo, um teatro de pedra e um pequeno edifício conhecido como Monatschlossl (que hoje alberga a secção etnográfica do Museu Carolina Augusteum, de Salzburgo.
O palácio é muito interessante, especialmente os “jogos de água”. E sabe sempre bem ser molhado num dia quente. Mas cuidado com as máquinas fotográficas ou de vídeo.
Após termos estado a visitar Hellbrunn, onde espreitámos em cada recanto, regressámos, às 13.30h a Salzburgo, utilizando os mesmos meios de transporte da ida, o autocarro e o barco.
Dirigimo-nos à pousada da juventude de Salzburgo, recolhemos as malas e pusemo-las no carro que estava no parque de estacionamento perto da estação de comboios. A viagem agora era até uma pequena cidade medieval, já na República Checa, que tínhamos descoberto no guia Western Europe, da Lonely Planet.
Mas, até lá chegarmos, ainda tínhamos que percorrer uma vasta área de mais uma região considerada Património Mundial pela Unesco: a paisagem cultural de Hallstatt-Dachstein/Salzkammergut.
Este último nome deriva da “Câmara Imperial do Sal”, a autoridade encarregada de gerir as preciosas minas de sal, durante o império de Habsburg.
Seguimos, então, para norte até apanharmos a auto-estrada A1 para o leste, até à cidade de Mondsee, a escassos 30km de Salzburgo. Mondsee fica junto à margem norte de um lago com o mesmo nome.
É aqui que se encontra a catedral onde Maria e o Barão Von Trapp, do filme “Música no coração” (Sound of Music, no nome original), celebraram o seu casamento.
Salzkammergut e Mondsee





Ficámos em Mondsee pouco tempo. Visitámos a catedral e o centro (partimos mas ficámos com a impressão de que este é o local ideal para descansar numa longa viagem na Europa – hotel Mondsee). A partir daí continuámos a conduzir pelas estradas que contornam alguns lagos desta região da Áustria.
Nós passámos pelo lago Mondsee (margem norte) e pelo Attersee (margem oeste) mas há outros muito perto, tais como o Wolfgangsee e o Traunsee. Os lagos são extremamente bonitos, bem como as vilas e cidades construídas junto a eles.
Como era verão, viam-se imensas pessoas a tomar banho em praias algo sobrelotadas ou mesmo em lugares mais isolados.
A seguir a Attersee seguimos para sudeste, sempre por estradas secundárias, em direcção a Linz. Passámos ao largo e entrámos na B126 até à fronteira.
República Checa
Nesta altura a República Checa ainda não fazia parte do espaço Schengen, que permite a livre circulação de pessoas entre os países que assinaram o acordo. No entanto, atravessámos a linha que delimita os dois países mostrando apenas, por breves instantes, os passaportes aos guardas fronteiriços.
Continuámos a viagem de carro para norte, pela estrada 161 até Vissi Brod. Aí entrámos na 163 e, pouco tempo depois, pela 160. Esta última segue para norte sempre ao lado do rio Vlatva. Por aqui se começam a ver imensas famílias a fazer piqueniques e a carregar caiaques, muito populares junto aos rios da República Checa.
Cerca de 220km após termos deixado Salzburgo chegámos a Cesky Krumlov, para mim, um dos muitos pontos altos desta viagem e pequena amostra do que é a magnífica República Checa. A entrada no país mostrou-nos, imediatamente, as diferenças culturais e económicas em relação aos (ricos) vizinhos Suíça e Áustria.
Mas a República Checa (Ceska Republika em Checo e Czech Republic em Inglês) é igualmente rica em história e cada vez mais se afirma como uma futura potência a nível económico na União Europeia.
Trata-se dum país somente com fronteiras terrestres na Europa Central, vizinho da Polónia, da Alemanha, da Áustria e da Eslováquia. É membro da NATO desde 1999 e da União Europeia desde 2004.
As Terras Checas emergiram nos fins do século IX, quando foram unificadas pelos Premyslidas (dinastial real). Este “Reino da Boémia” foi uma potência regional que viria a ser fragilizado por conflitos religiosos como as Guerras Hussitas (século XV) e a Guerra dos Trinta Anos (século XVII).
A derrota na Batalha de Mohacs levou a que as Terras Checas caíssem sob o poder da Casa de Habsburgo a partir de 1526 e se tornassem parte do Império Austro-Húngaro. Depois do colapso deste como resultado da derrota na Primeira Guerra Mundial, nasceu a independente República da Checoslováquia, em 1918.
Mais tarde, em 1946, o Partido Comunista viria a ganhar força, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, após a libertação dos alemães de grande parte da Checoslováquia pelo Exército Vermelho da União Soviética.
Num golpe de estado em 1948 o país passou a ser governado pelos Comunistas. Já em 1968, uma grande dissatisfação com o regime levou a uma tentativa de reforma do regime Comunista, conhecida como Primavera de Praga.
Como consequência as forças armadas do Pacto de Varsóvia invadiram o país e aí permaneceram até 1989, com o colapso do regime Comunista na Revolução de Veludo. Em 1993, a 1 de Janeiro, a Checoslováquia viria, pacificamente, a dissolver-se nos seus dois estados constituintes: República Checa e Eslováquia.
Hoje em dia, politicamente, a República Checa é uma democracia parlamentar com um presidente como chefe de estado e um primeiro-ministro como chefe de governo. O parlamento tem duas câmaras: a Câmara dos Deputados e o Senado.
A economia da República Checa é uma das mais desenvolvidas dos países emergentes da Europa Central e de Leste. As indústrias mais importantes são a dos motores e peças automóveis, equipamentos elétricos, metais, químicos, carvão, comida processada, vidro, bebidas e turismo. Quando estive neste país a moeda ainda era a Coroa Checa (CZK). A adesão ao EURO fez-se em 2010.
A população da República Checa é de cerca de 10 milhões de pessoas (semelhante a Portugal, embora este tenha uma área um pouco superior). A maior parte dos habitantes é étnica e linguisticamente checa (95%). Outros grupos étnicos incluem germânicos, ciganos e polacos.
A maior comunidade religiosa é a Católica Romana (27% da população), seguida da Protestante (2,5%). Há, também, alguns milhares de Judeus (numa Sinagoga de Praga existe um memorial aos mais de 80.000 checoslovacos judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial).
Esta nação montanhosa, devido à cadeia montanhosa dos Cárpatos, tem como figuras destacadas na História o compositor Antonin Dvorak e o escritor Franz Kafka.
Em Cesky Krumlov
Chegámos a Cesky Krumlov à hora de jantar e ainda tínhamos que encontrar alojamento (Hotel Cesky Krumlov) em mais um lugar considerado Património Mundial pela Unesco.
Depressa achámos uma pensão com quartos gigantes, com banheiras gigantes e tudo, na praça principal. A Pensão chama-se Krumlovska fontana Pension e é muito fácil de descobrir. É cor de rosa, fica num canto da praça (junto à fonte) e tem um restaurante/café por baixo. É aqui que se estabelecem os contatos e se recolhem as chaves.
Pagámos 50 euros por cada quarto duplo. Se estiver a pensar viajar de verão, o meu conselho é reservar um quarto com antecedência (hotel Cesky Krumlov).

Depois de carregarmos as malas até aos quartos (os carros não podem entrar até à praça) fomos estacionar num parque pago que fica junto às muralhas. Se este estiver cheio, não se preocupe. Há outros no perímetro das muralhas.
Jantámos no restaurante da pensão, na esplanada. Aí tivemos uma surpresa muito boa: na República Checa éramos ricos! Bem… talvez não ricos propriamente mas, para quem vinha da Suíça e da Áustria, quase.
Para não perdermos muito tempo com as refeições costumávamos comer em restaurantes poucas vezes. O suficiente para ter uma ideia da gastronomia do país onde estávamos.
Na maioria das ocasiões comíamos sandes no carro, em viagem, ou em piqueniques improvisados à beira da estrada e em jardins. Para além disso, saía mais barato comprar pão, fruta, queijo, saladas embaladas e uma ou outra gulodice nos extremamente bem organizados supermercados da Áustria e, especialmente, da Suíça.
Naquela praça, comemos uma bem servida e deliciosa dose e mais uma sobremesa por… 5 euros cada um. O custo de vida na República Checa permitia-nos comer bastante bem e barato. Tudo com um aspeto fenomenal.
Um pouco mais sobre Cesky Krumlov
Estudando a cidade onde estávamos, descobrimos que Cesky Krumlov, se situa na região da Boémia do Sul. É a capital da antiga região de Rosenberg, em tempos pertencente à nobreza mais rica e influente do país.
A construção de Cesky Krumlov, bem como do castelo, começou no século XIII. Segundo a lenda, o nome Krumlov deriva do alemão Krumme Que, que se pode traduzir como “curva num prado”. Obviamente que se refere à configuração da parte mais antiga da cidade, numa curva em forma de ferradura do rio Vlatva (Cesky quer, simplesmente, dizer “Checo”).
A localização da povoação deve-se ao facto do rio ter sido, na altura, extremamente importante nas rotas comerciais da Boémia.

A cidade é constituída por casas de arquitetura medieval gótica, renascentista e barroca. Destacam-se o castelo e o seu teatro, completamente conservado sem qualquer tipo de reconstrução.
Por estes motivos, Cesky Krumlov foi considerada Património da Humanidade, pela Unesco, em 1992. Hoje em dia moram, nesta povoação, 14.000 pessoas, numa área de 22km². Por aqui fica a cervejeira Pivovar Eggenberg e se filmou o filme Hostel.
Cesky Krumlov é um importante centro cultural onde se organizam alguns festivais e outros eventos ao longo do ano. O mais conhecido é o Festival da Rosa de Cinco Pétalas, no fim de semana do solstício de verão, em junho.
Esta celebração recria o ambiente típico de um cidade medieval. Para isso, as pessoas usam roupas da época e há espetáculos de justas, esgrima, dança e teatro popular. O festival acaba com um fogo de artifício por cima do castelo.
Cesky Krumlov fica perto do Parque Nacional de Sumava, o maior do país. Esta área é ideal para quem goste de andar a pé, de bicicleta ou de canoa. Também nas imediações da cidade está o lago Lipno, no qual podemos fazer passeios de barco até pequenas vilas nas margens e até à barragem hidroelétrica.
Quanto a nós, depois de jantar, demos uma volta pelas ruas da cidade medieval e fomo-nos deitar. Para o dia seguinte estava reservada toda a exploração de Cesky Krumlov e a viagem de carro até Praga, passando por Ceske Budejovice e pelo Castelo de Hluboka. Mas adianto já que quero voltar a este país e, especialmente, a Praga.