Uma viagem de carro desde Viena até ao sul da Croácia era o que queríamos fazer neste terceiro dia na capital austríaca. Após o primeiro a passear pelas ruas de Viena e um segundo em Belvedere, era tempo de partir.
Admito que Viena não foi um dos meus destinos preferidos desta viagem. Gostei muito mais da natureza omnipresente da Suíça ou da estética deslumbrante e do ambiente da República Checa. Talvez não estivesse com espírito para visitar Viena devido à preocupação por um dos meus companheiros de viagem estar no hospital. Mas reconheço que Viena e a sua grandiosidade têm algum encanto.
No percurso original da nossa viagem de carro na Europa, estava incluída Bratislava, capital da Eslováquia (a uns escassos 60 km); um “saltinho” a Budapeste, capital da Hungria (a cerca de 260 km); e uma passagem pela Eslovénia (que ficava pelo caminho até à Croácia).
No entanto, abandonámos qualquer uma destas ideias devido a termos sido obrigados a prolongar a estadia em Viena. Os gastos também já não tinham sido poucos e ainda estávamos muito longe de casa (3000 km Viena-Portugal). Mas as viagens longas são mesmo assim, os planos iniciais vão-se sempre alterando, seja porque razão for. Por isso é que são grandes aventuras.
Alterámos, pois, por todas estas razões, o roteiro desta viagem na Europa. Mas ainda queríamos ir a Dubrovnik, mesmo, mesmo no sul da Croácia. A 1000 km de Viena e a 3200 km de Évora. A cerca de 250 EUROS em gasóleo e uma boa quantia em portagens e hotéis do fim da viagem.
Onde fica a Croácia / Mapa Croácia
A República da Croácia (Republika Hrvatska, em croata) é um país da Europa Central com fronteiras com a Eslovénia e a Húngria (norte), a Sérvia (nordeste), a Bósnia e Herzegovina (este), e o Montenegro (sudeste). Existe, ainda, uma fronteira marítima com a Itália, no Golfo de Trieste, pois a sul e oeste fica o Mar Adriático.

O mapa abaixo tem 3 cidades assinaladas: a capital da Croácia (Zagreb, onde não fomos), Dubrovnik e Viena (para terem uma noção do caminho que teríamos de fazer). Aproxime o mapa para ver melhor o território croata.
História da Croácia
No início, o território que hoje constitui a república da Croácia foi colónia grega e, mais tarde, parte integrante do Império Romano. No século VII foram formados dois ducados, um a norte e outro a sul.
Esses ducados lutaram entre si até que, numa crise de sucessão em 1102, se reconheceu o monarca Húngaro Coloman também como rei da Croácia. A união duraria quatro séculos.
Após a batalha de Mohács, em 1526, e a subsequente derrota das forças húngaras pelo Império Otomano, a separação do reino tornou-se inevitável. Com a morte de Luís II (Rei da Húngria, da Croácia e da Boémia) nessa batalha, os nobres croatas escolheram como novos monarcas os Habsburgos (da Áustria). A condição era que estes assegurassem dinheiro e soldados suficientes para proteger a Croácia dos otomanos.
A relação com a referida linhagem austríaca (que viria, mais tarde, a tornar-se no Império Áustro-Húngaro) culminaria por volta de 1918, no final da Primeira Guerra Mundial. Formou-se, então, o Reino da Jugoslávia que, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial (1945), viria a ser a República Socialista Federativa da Jugoslávia.
Esta união federal era, também, constituída por Sérvia (com as regiões autónomas de Kosovo e de Voivodina), Croácia, Montenegro, Eslovénia, Bósnia e Herzegovina, e Macedónia.
Com o fim da Guerra Fria, e o fim do domínio comunista sobre esta república do Bloco de Leste, tiveram lugar as primeiras eleições livres, em 1990. A vitória da “União Democrática Croata” não agradou aos sérvios. Iniciou-se, então, uma guerra sangrenta entre croatas e sérvios que acabaria em 1995 com a vitória dos primeiros. Mas já em 1992 a Croácia tinha sido reconhecida, pela União Europeia, como um estado soberano.
Geografia da Croácia
O terreno é variado e inclui planícies e lagos, montanhas (com bosques densos) e costas marítimas rochosas. O clima é, de igual modo, diversificado, entre continental, mediterrâneo, de montanha, temperado e subtropical (no arquipélago de Palagruza).
O território da Croácia possui mais de mil ilhas e o país é famoso pelos seus parques nacionais.
Governo e política da Croácia
Hoje em dia, a Croácia é membro das Nações Unidas, da Nato e da União Europeia. O país é uma democracia com um sistema parlamentar, onde existem um Presidente e um Primeiro-Ministro.
Demografia na Croácia
A Croácia tem cerca de quatro milhões e meio de habitantes e a sua capital, Zagreb, oitocentos mil (mais de um milhão e cem mil na área metropolitana). A população tem variado bastante, ao longo dos anos devido às Guerras Jugoslavas, que levaram à fuga e emigração no princípio da década de 1990.
Durante a guerra, os sérvios levaram a cabo uma limpeza étnica de milhares de croatas antes de abandonarem, também eles, o país. Muitos croatas voltaram depois da guerra mas muitos não regressaram da Europa Ocidental.
A população é, hoje em dia, maioritariamente Católica Romana (88%) e Ortodoxa (4,4%). A língua falada é o croata mas fala-se inglês como segunda língua, especialmente nas zonas turísticas.
Economia da Croácia
A economia da Croácia continua a desenvolver-se, depois da guerra a ter atrasado alguns anos. O maior empregador é o setor dos serviços. Quanto ao setor industrial, é dominado pela construção de barcos, comida processada e pela indústria química.
O turismo é uma importantíssima fonte de receita nacional, especialmente no Verão. A Croácia é um destino turístico muito popular. A moeda usada é a Kuna.

Infraestruturas na Croácia
Existem mais de 1.100 km de auto-estradas que ligam a capital Zagreb à maioria das outras regiões. As mais conhecidas são a A1 (Zagreb–Split) e a A3 (que atravessa o noroeste do país em direção à Eslovénia). A rede de auto-estradas é de boa qualidade (paga-se portagem em quase todos os percursos).
A Croácia tem uma extensa rede de caminhos de ferro. Os três aeroportos internacionais que servem o país são os de Zagreb, Split e Dubrovnik. A empresa Jadrolinija opera o enorme sistema de ferries, necessário para fazer o transporte entre as muitas ilhas e as cidades costeiras. Também é possível viajar de ferry para a Itália.
A viagem continua
No 11º dia desde a partida de Portugal, tínhamos que fazer os mais de 850 km que nos separavam da (ainda desconhecida) noite de descanso. O plano era seguir para sul e aproximarmo-nos o mais possível de Dubrovnik. Não há muito para contar desta viagem e não tirei uma única fotografia porque fizemos todo o caminho debaixo duma horrível tempestade e de muito trânsito.
O caminho foi longo. Passámos junto a Graz (Áustria) e atravessámos a pequena Eslovénia. Já na Croácia, passámos ao largo de Maribor e, perto de Zagreb virámos para a A3/E70 e, 5 km depois, para a A1. Nesta auto-estrada seguimos 415 km de sofrimento. Não se via quase nada para fora. Mas Dubrovnik não nos saía da cabeça.
Passámos, a meio do caminho, muito perto da cidade costeira de Zadar mas só saímos da auto-estrada quando ela acabou, pouco antes de Split.
Ao saírmos tínhamos duas hipóteses. Não sei ao certo qual era a pior mas não posso deixar de pensar que era a que escolhemos. O crescente turismo na Croácia vê-se bem nesta zona do país e o tráfego é muito intenso. Ora, nós estávamos a chegar ao fim do dia, precisamente quando muita gente regressa a Split depois de ter passado um dia nas praias do Mar Adriático.
Ao deixarmos a auto-estrada podíamos seguir pela costa ou por uma estrada secundária pela montanha. Escolhemos a segunda opção e, já com quase 800 km de viagem, iniciámos mais 50 de curvas e curvinhas, para cima e para baixo, atrás de autocarros e de toda a espécie de veículos lentos.
Estávamos exaustos quando chegámos a Makarska, entre as cidades de Brela e Gradac. Makarska é uma espécie de riviera croata, muito popular entre os turistas alemães, austríacos, checos, eslovacos, suecos, eslovenos, húngaros, bósnios,… São às dezenas de milhares no Verão e eu acho que, pelo menos, umas belas centenas nos seguiram desde a Áustria, a julgar pelo trânsito.
O “problema” da viagem na Croácia nesta faixa costeira é que fica entre o mar Adriático e a montanha Biokovo, sendo que a distância máxima entre estes dois pontos é, em linha reta desde Split, de 35 km. E a partir daqui para sudeste é sempre a estreitar até à fronteira com Montenegro.
Devido ao facto da zona ser tão montanhosa, havia pouco alojamento hoteleiro (hotéis Croácia) relativamente à procura. Os habitantes da região croata faziam, por isso, um bom negócio a alugar casa ou quartos durante o Verão.
Começámos à procura de lugar para dormir a partir de Makarska. Sempre sem sucesso, fomos descendo ao longo da costa. Nada em Tucepi, nada em Podgora. Devemos ter perguntado em mais de trinta casas, em dois hotéis e no posto de turismo de Makarska.
Eram já 11 horas e ainda não tínhamos jantado. A São ainda estava em recuperação depois da estadia no hospital de Viena e estávamos todos exaustos depois do dia inteiro a fazer os 850 km desde a capital austríaca. Decidimos que, se íamos dormir no carro, não podíamos ficar também sem jantar.
Conduzimos mais um pouco e entrámos na pequena vila de Igrane, onde descobrimos uma modesta pizzaria à beira-mar, com uma funcionária muito simpática. Comemos e, à meia-noite, fomos embora para procurar um lugar sossegado e minimamente seguro para dormir dentro do carro. Uns 100 metros mais à frente, na rua mesmo encostada ao mar, vi uma placa que anunciava quartos. Saí, com pouca esperança, e perguntei num café por baixo dos apartamentos.
Tentei falar inglês, espanhol, francês e uma misturada de todos com o dono, um tal Pascal, mas nada resultou. Mas a sua amiga lá traduziu, a custo, o que eu queria e disse-me que havia um quarto livre. Nem queria acreditar. Perguntei se podia ver o quarto, não fosse ele ser pior do que os bancos do carro.
O Pascal era um tipo de bigode com trinta e tal anos e bruto como só ele. Levou-me à rua e apontou para a janela do quarto com o dedo. Insisti que queria ver por dentro. Levou-me lá a cima. Era um TØ com uma cama e um sofá-cama, limpinho e com bom aspeto.
Fechámos negócio por 75 EUROS com um aperto de mão e uma pancadona de boas noites nas costas que ele me deu que quase me fazia cair das escadas.
Quando cheguei ao carro, os meus três companheiros ficaram loucos por haver um quarto para dormir. E, ainda por cima, tivemos direito a assistir a uma trovoada sobre o mar Adriático a partir da nossa janela do segundo andar. Isto antes de adormecermos a pensar que iríamos viajar de carro pela costa da Croácia até Dubrovnik, no dia seguinte.