Depois de chegarmos a Amsterdão de interrail e termos conhecido a cidade, partirmos na manhã de 8 de Agosto, desejosos de chegar a Berlim. Seria a minha primeira vez na Alemanha. Chegámos à estação Berlin Hauptbahnhof às 3:20 da tarde e fomos para o Hotel Central Inn.
Estávamos à espera dum edifício típico de hotel mas o que encontrámos foi um edifício normal com um grande cartaz numa das varandas com o nome do hotel. Sim, o hotel era só num dos andares. Quando estávamos a pagar, já que andávamos a poupar o nosso dinheiro em notas (para evitar ir a ATMs e pagar taxas), eu quis usar o cartão de débito. Mas, quando o mostrei, o rececionista disse-nos com um sotaque muito alemão “com cartão não há desconto!”.
A nossa conta para as duas noites era 120€ e o desconto seria 2,5€ mas quando eu disse “Então está bem, 117,5€”, ele respondeu “Não, são 120€”. “Ok, mas com desconto?”. “Com desconto 120€, sem desconto 122,5€…”. Huumm, não gostei daquele negócio pago com notas. Só mais tarde me apercebi que o desconto significava que havia uma taxa de 2,5€ quando se pagava com cartão de débito. Estava habituado a estas taxas mas pagas pelo vendedor, não pelo cliente.
Bem, o hotel era modesto mas serviu bem (mais hotéis em Berlim). Era limpo e os funcionários eram simpáticos, sem contar com o inglês deles e com a confusão com o pagamento inicial. Para além disso, a internet grátis funcionava para vermos o email (nos nossos Nokia N900).
Pela cidade de Berlim
Atravessámos o rio em direção ao Reichstag (parlamento alemão) e ao bonito Brandenburger Tor (Portão de Brandemburgo, uma espécie de Arco do Triunfo, símbolo da cidade de Berlim). Depois de uma fotos, descemos até à avenida Unter Den Linden. Depois, começámos de comida, já que estávamos esfomeados, mas entrámos numa zona financeira com tudo menos um lugar para comer.

Outra coisa estranha que achámos na nossa busca por comida foi que parecia que a cidade estava abandonada, sem trânsito, poucas pessoas, silêncio… Especulámos sobre como mudaria no dia seguinte, visto que já não seria domingo. Mas não. O trânsito e confusão que se esperaria duma capital europeia nunca chegou. Afinal, Berlim é mesmo assim. Fixe, não?
Mas voltando à nossa busca por comida, finalmente encontrámos um restaurante de sanduíches. Ficámos um pouco desiludidos porque queríamos comer algo mais “alemão” mas a nossa fome ganhou. Pedimos a comida em inglês e, depois de a comer, decidi arriscar pedir um café em alemão (tinha estado a aprender sozinho e queria experimentar): “Ich will ein Espresso bitte!”, o funcionário acenou afirmativamente e eu perguntei-lhe em inglês se tinha pronunciado bem. A sua resposta foi “You want coffee?”, “Yes but did I say it right?”, “You don’t want coffee?”, “Yes, but did I pronounce it right before?”, “You wanted coffee, right?”. Percebi que ele não me tinha entendido em alemão, simplesmente respondi “Yes” e rimos os dois daquela conversa estranha.
Ironicamente, andando um bocado, agora ao entardecer, chegámos à Bebelplatz (Praça Babel). Nesta altura ainda não sabíamos que era uma praça famosa de Berlim (leia mais adiante), mas havia uns sítios onde vendiam bebidas e Currywurst (prato de fast-food alemão), o tipo de coisa que queríamos ter comido.
Havia também uma banda a tocar música cubana. Acabámos por experimentar Currywurst e gostámos. A banda é que não era lá muito boa e havia apenas algumas pessoas a vê-los. Por isso, continuámos o nosso passeio por Berlim. Pouco depois, já que era de noite e estávamos cansados, caminhámos em direção ao nosso hotel, vimos televisão alemã um bocado e adormecemos.
O tour em Berlim
A Ana (leia Interrail parte 3 para saber quem é) tinha-nos falado dos tours NewEurope, que têm disponíveis passeios grátis (há também opções pagas) em algumas cidades europeias, com guias que fazem descrições muito informais. Uns tipos muito cool que tornam os passeios mesmo interessantes. Claro, mas porque é grátis? Porque os guias publicitam outros roteiros pagos, levam-nos a sítios específicos para beber água e comer uma refeição ligeira (eventualmente a NewEurope receberá uma comissão) e o seu trabalho é pago pelas gorjetas.
Dê, então, uma gorjeta simpática ao guia. O tour de Berlim começava às 10 da manhã em frente ao Brandenbourger Tor. Tomámos um bom pequeno-almoço num Dunkin’Donuts até que a multidão começou a aparecer para os passeios guiados por Berlim.

Havia duas línguas disponíveis para os tours, inglês e espanhol, mas nós preferimos a primeira. O nosso guia foi o Chris, da Inglaterra, que nos mostrou o centro de Berlim, começando pelo Brandenbourger Tor até Berliner Dom (Catedral de Berlim).
Mostrou-nos também muitos outros lugares importante e particularidades de Berlim como Holocaust Memorial, Checkpoint Charlie, o Muro de Berlim (obviamente) ou os canos de esgoto cor-de-rosa e a arquitetura soviética. Também falou, claro, dos Nazis e dos Soviéticos. Foi aqui que soubemos que a Bebelplatz perto de onde tínhamos comido Currywurst, no dia anterior, foi onde os estudantes Nazis queimaram os livros, em 1933.
O tour em Berlim foi excelente e aprendemos bastante sobre esta cidade cheia de história.
O estranho simpático almoço
Depois do passeio ter acabado, o Chris, o nosso guia, convidou toda a gente para almoçar um schnitzel por apenas 9€, o melhor schnitzel de Berlim, disse ele. Eu estava um bocado renitente mas a Helena achou uma boa ideia e disse-lhe que o acompanharíamos. Arrependi-me logo quando me apercebi que os nossos companheiros seriam uma rapariga americana de Wisconsin, o Chris e quatro húngaras que tinham estado a “atirar-se” a ele durante todo o tour… Por isso, sentimo-nos a mais.
Para piorar ainda mais as coisas, o restaurante não era perto, como tínhamos pressuposto. Tivemos que apanhar o S-Bahn (metro de Berlim) e o elétrico/bonde para lá chegar. O almoço foi no café Al Hamra, em Raumerstraße, e eu disse à Helena que talvez o Chris morasse perto e nos tivesse feito a todos ir com ele para chegar a casa. Afinal, ele morava a 5 minutos dali…
Bem, o almoço começou com o Chris a contar-nos como chegou a Berlim e como era viver na capital alemã. Ainda me sentia estranho ali até que as moças húngaras fizeram perguntas acerca de nós. Contámos-lhe coisas acerca de Portugal e Espanha. Reparei que pronunciavam Budapeste tal como nós o fazemos em português (soa a Buda-pecht) e isto levou a uma conversa acerca de línguas, na qual o Chris nos confessou que ainda não sabia falar alemão depois de dois anos em Berlim e que só agora começava a distinguir os sons…
Não tardou nada que estivessemos todos a falar entre nós enquanto o Chris bebia golos de cerveja Augustiner. Uma das húngaras era programadora, como eu, e contei-lhe como a minha companhia (Igalia) é diferente das outras e acerca de Software Livre. Ah, e quanto ao schnitzel, admito que não sei bem o que era, estava à espera de uma coisa elaborada mas afinal era, bem, um schnitzel, aquilo que chamamos um “bife panado” em Portugal. Era bom, mas nada que que despertasse grande entusiasmo, como acontecia com o nosso amigo Chris. Este acabou por ser um bom almoço.
A grande caminhada por Berlim
Depois de almoço, a Helena e eu fomos a uma loja de roupas em segunda mão perto do restaurante só para ver como era (não há lojas destas no sítio de onde somos) e decidimos voltar a pé para a Alexanderplatz em vez de apanharmos o elétrico/bonde. Foi uma caminhada agradável pela Prenzlaeur Allee abaixo, dando para ver um bairro menos cosmopolita. Até entrámos em lojas locais como uma que tinha figuras de Einstein, Jesus e Mozart! É fixe ou não é? Fez-me pensar se os rufias de Berlim cometiam os seus crimes com pistolas de água…
Ao chegarmos à Alexanderplatz, queríamos andar mais para sul, onde o Chris tinha dito que estavam as lojas alternativas ou de segunda-mão. Mas eu também queria passar pela estação de trens/comboios Berlin Ostbahnhof para ver os horários dos trens/comboios para a República Checa. Pensei que fosse a 15 minutos de distância mas estava errado, era mais longe e demorámos mais de meia hora a chegar lá.
Na estação de trens/comboios treinámos mais um pouco o nosso alemão. Decidimos, finalmente, enviar postais para a família e entrámos nos correios, onde a empregada nos disse que não falava inglês. Consegui explicar-lhe que queria selos. Depois, ao perguntar nas Informações pelo horário, fiquei espantado por nenhum dos funcionários (um deles da minha idade) falar inglês.
Indicaram-nos o primeiro andar e lá fomos. Mas entrámos no sítio errado, onde nos indicaram o caminho. Não estou a gozar ou desrespeitar os alemães ao referir tantas vezes que ninguém falava inglês, mas eu simplesmente pensava que na Alemana a maioria da pessoas falava. Todas as pessoas na estação de trens/comboios foram simpáticas connosco, as que não conseguiam perceber-nos fizeram o seu melhor para se fazerem entender e, por fim, no último escritório, os funcionários deram-nos a informação que queríamos

Depois deste pequeno desvio, dirigimo-nos para sul para a zona das lojas alternativas. Andámos um bom bocado mas estava a ficar de noite e provavelmente encontraríamos as lojas já fechadas. Por isso, parámos num supermercado para comprar “mantimentos” para a viagem de trem/comboio do dia seguinte.
Tínhamos andado bastante desde o almoço e concluímos que, simplesmente, não estamos habituados a estas distâncias. Berlim é mesmo enorme e cada cálculo mental que fizemos olhando para o nosso mapa turístico devia ter sido multiplicado por 3 (não, os nossos mapas não tinham escala…). Então, apanhámos o metro até à Alexanderplatz e jantámos num kebab.
Outra coisa em que reparámos foi que as pessoas que nos tinham dito que Berlim é uma cidade barata estavam certas. Apesar dos nossos salários serem mais baixo em Espanha/Portugal, os preços dos artigos nos supermercados e da comida (em restaurantes fast-food) não eram muito diferentes na maioria dos casos.
Por exemplo , uma sanduíche kebab custa 4,5€ e um apartamento de 72 m2 com 3 quartos (vimos numa imobiliária) a cerca de 15 minutos a pé de Brandenburger Tor custa 180.000 € (bem mais barato do que em Espanha/Portugal).
Depois de jantar, apanhámos o metro até Hauptbahnof e fomos para o nosso hotel para a última noite em Berlim.

No dia seguinte, fomos para a estação Hauptbahnhof outra vez e, depois de uma aventura com uma mudança de plataforma à última hora porque a comunicação foi feita apenas em alemão, partimos para Praga cerca das 12:36. Berlim supreendeu-nos mesmo e foi a cidade de que mais gostámos durante o Interrail inteiro. É uma cidade muito especial que pensamos ser um bom lugar para viver.
[Artigo traduzido e adaptado do original em inglês Interrail (Part 3) – The Netherlands.]